Monday, July 5, 2010

UMA HISTÓRIA DO SÉCULO PASSADO

Por volta de 1880, o francês François Gouin, homem de meia-idade, resolve aprender a falar alemão. Se estabelece então na cidade de Hamburgo, longe de seus conterrâneos, e lá permanece durante um ano. Só que em vez de procurar se integrar à sociedade alemã, fazendo amizades e convivendo com pessoas, ele se aprofunda numa série de tentativas de dominar a língua através do estudo da gramática e da decoreba de palavras em grande quantidade.
Assim que chega em Hamburgo, François se entrega com devoção ao seu primeiro projeto: decorar uma gramática de alemão junto com uma tabela de 248 verbos irregulares! Alcança seu intento em apenas 10 dias e corre para a universidade local para testar seu vasto conhecimento recém adquirido. "Grande decepção!", afirma ele em seu livro mais tarde. "Não conseguia entender uma única das palavras dirigidas a mim."
Sem desanimar, François retorna à solidão de seu quarto, dessa vez decidido a decorar os radicais e as declinações do alemão, e redecorar a gramática e os verbos irregulares. Qual nada! O resultado acaba sendo o mesmo que o anterior. Ao longo daquele ano que havia reservado para se dedicar ao aprendizado de alemão, François decorou livros, traduziu Goethe e Schiller, e chegou a decorar 30.000 palavras de um dicionário de alemão, tudo isso no isolamento de seu quarto, e tudo resultando sempre no mesmo desastre: sua incapacidade de se comunicar com o povo alemão. Por mais que acumulasse informações e adquirisse conhecimento a respeito do idioma, sua habilidade de funcionar na sociedade alemã não saía da estaca zero. Ao final de um ano, tendo experimentado na própria carne a ineficácia do método tradicional, François não vê outra alternativa senão a de encarar o fracasso e retornar para casa.
A história de François, entretanto, tem um final parcialmente feliz. Ao retornar, ele descobre que seu sobrinho de 3 anos de idade, durante sua ausência, havia passado pelo milagroso processo de aprender a falar, transformando-se de um nenê sem expressão verbal em um verdadeiro conversador em francês. Como seria isso possível? Como é que uma simples criança sem conhecimento nem experiência consegue com tanta facilidade aquilo que ele, homem letrado e experiente, havia tentado com uma segunda língua e fracassado?
(Gouin, François. The Art of Learning and Studying Foreign Languages, 1880, from Brown, 43)

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